28/04/2010

Apenas uma história

Li no blog 8ito ou 8itenta ( http://oitoouoitenta.blogspot.com ) e não resisti em colocar aqui!

"À medida que se a próxima de casa a chuva ameaça começar a cair, mostrando-se através de uns esporádicos pingos mais atrevidos. Já na rua onde mora vê a silhueta de um homem ali perto, num canto mais escuro. Esforça-se por manter a cadência do seu passo, para não dar a entender algum incomodo ou receio, à medida que pega logo na chave da porta, para perder o mínimo de tempo a entrar.
Quando se encontra a 5 metros da porta de casa o homem sai do abrigo que lhe proporciona a sombra e deixa-se ser visto. Dá dois passos na direcção dela e pára, à medida que baixa o capuz que lhe cobria a cabeça.


- Tu? - diz ela com um ar surpreso, mas aliviada ao mesmo tempo por ser alguém conhecido, para questionar logo de seguida - …mas que fazes aqui?


- Estava pelas redondezas e lembrei-me de vir perguntar se querias ir tomar um café.


- A sério? Mas… mudaste-te para cá, vieste em trabalho??


- Não, continuo por lá. Simplesmente saí do trabalho, peguei no carro e lembrei-me que talvez quisesses ir beber um café comigo.


- Saíste do trabalho…? Mas são 300 kms!!


- Eu sei…


Ele começa então a mostrar alguns sinais de nervosismo, uma mão bem fundo no bolso das calças ao encolher os ombros e a outra mão a refugiar-se na nuca, um ligeiro pontapé numa pedra que encontrou pelo chão enquanto desviava o olhar para o chão para tentar não mostrar esses mesmos sinais. Balbuciou um pouco, estremeceu mais, e hesitou mas lá continuou a falar.


- …sabes, há muito tempo que reparei em ti. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que te vi, com a cara pintada, a roupa suja e um sorriso de quem estava a adorar as brincadeiras que lhe pregavam. Durante uns tempos vi-te com as tuas amigas a divertirem-se e o sorriso de quem estava feliz. Depois desapareceste por uns tempos. Passados uns anos, por força do trabalho voltaste a entrar nos meus horizontes, começámos a falar e quase vivia para ver o teu sorriso todos os dias. E agora vieste embora e sinto falta do teu sorriso… por isso vim perguntar-te… se querias ir tomar um café comigo.


- Mas como deste com o sitio onde moro?


- Foi complicado. Tive de fazer uns quantos telefonemas, ficar a dever alguns favores… ninguém me conseguiu dizer a morada exacta, o melhor que consegui foram umas indicações. Mas vi ali o teu carro estacionado e esperei que pudesses aparecer.


- Pois. Não leves a mal, até ia tomar café contigo mas tenho planos.


- Ah. Pois… claro, devia ter telefonado antes. Tens planos… fica para outra oportunidade, então.


- Pois. Para outra oportunidade.


E ele voltou-se, cabeça a mirar as pedras que pisava em direcção ao seu carro, sem olhar para trás. Entrou no carro e nesse instante começou a chover como há muito não se via. Ali ficou, uns 5 minutos, com as mãos na parte superior do volante e a cabeça pousada sobre as mãos. Ligou o carro e arrancou de volta a casa, para os longos 300kms do regresso, para os quais não teve a mínima pressa, enquanto pensava na triste figura que tinha acabado de fazer.
Chegou a casa já madrugada alta, depois da mais demorada viagem de 300kms que tinha feito. A chuva não parava de cair, agora de forma menos severa, complacente com a tristeza que percorria todo o corpo daquele homem devastado. Estacionou o carro e encaminhou-se para a sua vazia casa. Meteu a chave na fechadura e atrás de si ouve uma voz.


- Olá.


Virou-se e ali estava ela, encharcada dos cabelos aos pés e com o sorriso que ele tanto admirava.


- Tu, aqui? Mas não tinhas planos?, perguntou ele.


-Telefonei à minha tia a desmarcar. Disse-lhe que tinha de ir ter com a minha vida.


Nesse instante ela pegou-lhe na mão e perguntou:


- Tens café?


"


. . . .

2 comentários:

Anónimo disse...

[dei um passo

estou a flutuar

de repente tropeço

e alguem está la pra me amparar]



ja me magoei, quem nao se magoa?



ass. Felicidade xD

Anónimo disse...

Tenho-me lembrado de ti, ultimamente. Pensava que te teria esquecido, mas nos últimos tempos parece que tudo me faz pensar em ti.
Não sei se por ser esta altura do ano… a lembrar esta altura de outros anos… talvez. As “festividades” e o ambiente alegre em que toda a gente parece viver faz-me lembrar como as coisas eram em tempos… como as coisas chegaram a ser, por uns tempos.
Mas talvez não seja só isso. Parece que é tudo, tudo o que se tem passado parece trazer-me de volta momentos que foram nossos…
Corrijo: momentos que, afinal, talvez tenham sido apenas meus. Mas momentos em que tudo parecia tão perfeito… sei que soa a ingenuidade mas, nessas alturas, cheguei mesmo a pensar que poderiam ser reais essas idiossincrasias a que chamam de almas gémeas, casais perfeitos, seres que se complementam…
Há de haver quem diga que devia esquecer, que não devia viver preso ao passado. Provavelmente terão razão, mas a perfeita ilusão de uma utópica harmonia que se criou – e que na realidade não terá passado disso mesmo, uma utopia – ganhou raízes demasiado profundas e prendeu-se a mim como se necessitasse do meu presente para sobreviver, reavivando o passado. E como tudo fazia sentido, na altura.
E agora… agora vejo-me num filme que não parece o meu. Não quero que as coisas tomem o caminho que estão a tomar… porque sei o que se avizinha. E não penses que é presunção, porque não o digo de ânimo leve. Sei o que se avizinha, porque toda a minha existência foi passada no outro lado da barricada. E não é bom - o outro lado da barricada - quando deste lado está alguém que não tem bem a certeza de como se comportar numa situação destas, de forma a evitar danos maiores… ainda por cima, com o pensamento em ti…

E como é que se diz uma coisa dessas a outro alguém…?

O coração não escolhe… nem eu te escolhi a ti, apenas calhou.
E não te preocupes, bem sei que o coração não escolhe… tu também não me escolheste, apenas porque não calhou…

Texto retirado do mesmo blog...
Desculpa não resisti...
fica bem